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Supõe-se que a história da cultura das orquídeas tenha começado no extremo oriente, sobretudo no Japão e na China, há cerca de 3.000/4.000 anos. A palavra chinesa para orquídea (lan) já aparece no herbário chinês desde então. Entretanto, não se sabe ao certo quando ela passou a ser cultivada pelo homem e nem se este cultivo foi motivado por razões estéticas ou apenas medicinais.

A primeira referência direta à orquídea encontrada foi feita pelo imperador chinês Sheng Nung, ao dar alguns conselhos sobre o uso do Dendobrium com finalidade medicinal.

Confucius (551 - 479 ac. ) também fez referência ao perfume das orquídeas.

No século 3, um manuscrito chinês de botânica menciona duas espécies que hoje são conhecidas como Cymbidium ensifolium e Dendrobium moniliforme.

Em outros livros chineses, datados de 290 a 370 de nossa era, há referências diretas às orquídeas. Apesar das inúmeras citações também feitas aos gêneros Vanda e Dendrobium, o Cymbidium foi sempre o mais citado dos três.

No ocidente, a referência mais antiga é encontrada em Theophrastus, aluno de Aristóteles, considerado por muitos como pai da botânica. Em seu trabalho denominado "Investigação sobre as Plantas", datado do ano 300 antes de Cristo, ele usa a palavra "orchis" para denominar certas espécies. "Orkhis" é a palavra grega para testículos e apesar dele ter sido o primeiro a mencionar, possivelmente não foi o primeiro a observar a semelhança entre as raízes de certas orquídeas terrestres (que vegetam sobretudo nas zonas temperadas da Europa) e os testículos. Ainda hoje estas espécies são conhecidas pelo mesmo nome (Orchis maculata, simia, mascula, spectabilis) e dele derivou o nome de toda família: "Orchidaceae".

No primeiro século depois de Cristo, um médico grego de nome Dioscórides, que serviu como cirurgião do exército romano, reuniu informações sobre 500 plantas medicinais, entre elas duas "orchis", em um trabalho intitulado "Materia medica".

No período que vai de 960 a 1279 (Dinastia Sung), muitas monografias e tratados sobre estas plantas foram elaborados na China.

Com a descoberta de novos mundos, outros gêneros de orquídeas (principalmente as epífitas) , até então desconhecidos, passaram a fazer parte do universo europeu, que só conhecia as "orchis" terrestres.

Antigas inscrições astecas falam de como a fava da Vanilla era usada pelos seus ancestrais para perfumar a bebida feita a partir do cacau. Os Maias também a utilizavam.

Os colonizadores espanhóis foram responsáveis pela introdução da utilização da fava, na Europa.

Em 1552, no "Manuscrito de Badianus", pela primeira vez na literatura do Ocidente foi mencionada uma orquídea originária do novo mundo, a "Vanilla". Este primeiro estudo sobre a flora da América do Sul. informava que ela era usada como especiaria, como perfume e sob a forma de poção, indicada para se ter uma boa saúde.

Em 1597, foi publicado o "Herbário de Gerard" (John Gerard - 1542/1612), onde as orquídeas são denominadas Satyrion feminina pois acreditava-se que elas seriam alimento dos sátiros e que seus excessos eram por elas provocados.

Em 1688, John Ray, em sua "História do Plantarum", descreveu a Disa uniflora, a mais bonita orquídea da África do Sul.

Em 1712, Englebert Kaempfer, médico alemão, num trabalho denominado "Amoenitatum exoticarum" citou, pela primeira vez, uma orquídea oriental.

Em 1728, aparece o primeiro livro publicado no Japão sobre orquídeas: "Igansai-ranpin".

Em 1735, Carl Von Liné (Linnaeus), botânico sueco, estabeleceu a primeira classificação coerente das plantas (nome genérico seguido do nome específico) além das linhas de desenvolvimento dos seres vivos e das leis da evolução. Em seu trabalho denominado "Genera Plantarum" ele utilizou a palavra "Orchidaceae" (derivada de "Orkhis") para denominar toda a família das orquídeas. Suas obras abririam mais tarde o caminho para os estudos de Darwin. Em 1763, ele publicou um outro tratado com centenas de espécies diferentes mas as classificou todas como Epidendrum.

Em 1768, a segunda edição do "Dicionário do Jardineiro", de Miller, fala das orquídeas, mas também as trata de Epidendrum, nome dado na época a todas as espécies tropicais.

Em 1772, Matsuoka publicou um livro em chinês, que provavelmente era uma tradução do "Igansai-ranpin" japonês, onde são citadas seis orquídeas.

Em l830, John Lindley (botânico e taxonomista). fez a primeira classificação das orquídeas. Ele escreveu diversos livros sobre plantas mas foram seus trabalhos sobre orquídeas que mais lhe renderam fama, sobretudo "O gênero e espécies das plantas orquidáceas". Ele deixou um livro inacabado mas que é ainda assim considerado um clássico da botânica, "Folia Orchidacea".

Darwin, em 1862 publicou "The Various Contrivances by which Orchids are fertilized by Insects". Foi a primeira contribuição essencial para o conhecimento e compreensão das estratégias empregadas na propagação das espécies.

Em 1887, Lewis Castle publica o livro "Orquídeas: sua estrutura, história e cultura".

 



Em 1906, foi publicado o volume III da "Flora Brasiliensis", a primeira grande obra dedicada exclusivamente às orquídeas brasileiras e inclui descrição das plantas e apresentação de desenhos. A coleção (40 volumes) foi iniciada por Von Martius, diversos cientistas trabalharam em sua conclusão e coube a Cogniaux completar o estudo sobre as orquídeas que contou com a colaboração de Barbosa Rodrigues que cedeu seus desenhos e aquarelas.

É preciso registrar a importância do trabalho de Barbosa Rodrigues (1842-1909). Além de ter sido um importante botânico e respeitabilíssimo diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ele deixou um legado muitas obras científicas nos mais diferentes campos (arqueologia, entomologia, zoologia, botânica e história) e também aquarelas e desenhos onde ele aliava o rigor científico a um agudo senso artístico.
Os originais de suas aquarelas, recuperados pela Universidade da Basiléia, Suíça, foram publicados em 2 volumes ( "Iconographie des Orchidées du Brésil"), depois de 6 anos de pesquisas, de trabalho e de longas negociações diplomáticas. São 380 aquarelas documentando 700 espécies de orquídeas e que ficaram praticamente inéditas durante 100 anos. Infelizmente das 1.000 obras resta apenas menos da metade.

No século passado, muitos estudiosos brasileiros e estrangeiros também deram sua contribuição ao conhecimento das espécies brasileiras. Rolfe, Porsch, Kraenzlin, Schlecther, Loefgren, Brade, Campos Porto.

Em 1935, Porto e Brade publicaram um índice abrangendo todas as espécies novas e alterações de l907 até 1932 (Revista Rodriguesia, Tomo II.
Posteriormente este trabalho teve essa continuação com a publicação do segundo índice feito por Brade e Pabst, em l950.
A personalidade que dominou a primeira metade do século XX foi, sem dúvida, F. C. Hoehne que deu continuidade ao grande projeto de fazer o levantamento da Flora Brasileira. Esta grande obra, Flora Brasílica, começou a ser publicada nos primeiros anos da década de 40. Quanto às orquídeas, incluiu 94 gêneros com quase todas as espécies. Infelizmente faleceu antes de terminar esta obra monumental que começou com a intenção de atualizar a obra de Martius. Hoehne, além desta obra, possui uma grande bibliografia que inclui Iconografia de Orchidaceas do Brasil (um relato minucioso desta viagem pelo interior do país), um "Album de Orchidaceas Brasileiras" e muitas outras obras. Muitos deles feitos sob os auspícios da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, onde trabalhava. Guido Pabst, nos anos 70, tinha a intenção de continuar com este trabalho, porém morreu antes.
A grande personalidade da segunda metade do século XX é Guido Pabst, orquidologista respeitado em todo o mundo.
Ao longo de sua vida, publicou muitos trabalhos desenvolvidos em pequenos artigos publicados na revista "Orquídea".
Sua grande contribuição foi feita por seu mais importante e conhecido livro, elaborado com Dungs e denominado "Orchidaceae Brasiliense". Esta obra abrange 2.300 espécies ilustradas com aquarela e desenhos e é, ainda hoje, a principal referência para o estudo das orquídeas brasileiras. De certa forma, ele foi o professor ou, pelo menos, o mentor que influenciou muitos cientistas das gerações posteriores.
É bastante grande o número de pesquisadores com formação acadêmica ou não (ou com formação em diversas áreas) que, no século passado ou no início deste século, se dedicam seriamente ao estudo da família Orchidaceae no Brasil, inclusive aqueles que estão, neste momento, a concluir a sua tese.
Muitos desses pesquisadores estudam apenas um gênero, determinada região, tipo de habitat ou assuntos mais amplos. Todos eles (pesquisadores brasileiros ou estrangeiros) trazem importantes informações científicas teóricas ou de pesquisas de campo que contribuem para o conhecimento das orquídeas brasileiras. Infelizmente não temos sua biografia para informar um pouco sobre seus trabalhos e em que área estão atuando.
Desses estudos resultaram mudanças importantes no panorama da família Orchidaceae no Brasil: novos gêneros e novas espécies foram descobertos, alterações e migrações de gêneros foram propostas.
O número de novas espécies ou novas ocorrências para o Brasil tem aumentado muito devido às recentes expedições de campo, principalmente na região Amazônica, realizadas, principalmente, por João Batista F. da Silva, Francisco Miranda, Kleber Lacerda, Pedro Ivo Soares Braga.


Alvadir T de Oliveira

A. L. V. Toscano de Brito

Augusto Ruschi

Carl. L . Withner

Carlos Eduardo de Britto Pereira (Orchid News # 10)

Cassio van den Berg

Carlyle Luer

Cláudio Nicoletti Fraga (Orchid News # 16)

David Miller (Orchid News # 22)

Eduardo L. Borba

Eric Hágsater

Fábio de Barros

Fernando da Costa Pinheiro (Orchid News # 21)

Francisco Miranda (Orchid News # 6)

Gerardo A Salazar

Gustavo A. Romero-Gonzalez

Helmut Seehawer

J. A. Fowlie

João Aguiar Nogueira (Orchid News # 24)

João Batista F. da Silva

João Semir

Kleber G. de Lacerda (Orchid News # 13)

Leslie A. Garay

Lou C. Menezes (Orchid News # 7 e 23)

Luciano de B. Bianchetti (Orchid News # 24)

Luiz Menini Neto (Orchid News # 25)

Manoela F. Fernandes da Silva

Marcos Antonio Campacci (Orchid News # 12)

Pedro Ivo Soares Braga

Rudolf Jenny

Ruy Valka Alves

Vitorino Paiva Castro Neto (Orchid News # 12)



Segundo alguns estudiosos, a primeira orquídea tropical a ser cultivada na Europa foi uma espécie das Bahamas, do gênero Bletia (Bletia verecunda) e floresceu em 1732, na Inglaterra. Outros indicam como sendo a Brassavola nodosa, no século XVII, na Holanda.

No século XVIII, foram introduzidas na Europa várias espécies trazidas da China e das Antilhas e em 1794, 17 espécies estrangeiras já eram cultivadas no Jardim Botânico Real de Kew, na Inglaterra.

Em 1805, Robert Brown descobriu que as orquídeas tropicais eram epífitas mas a crença de que elas seriam parasitas persistiu por muito tempo e ainda hoje muitas pessoas continuam acreditando nisto.

Só a partir de 1818, o cultivo da orquídea começou a ser realmente difundido na Europa, quando William Cattley conseguiu fazer florir uma Cattleya labiata cujos bulbos chegaram até ele entre as folhagens que foram usadas para embalar um carregamento de plantas vindas do Brasil.

O século XIX foi tomado por uma verdadeira mania de orquídea tropical e elas alcançaram preços astronômicos. Missões eram enviadas aos trópicos para buscarem orquídeas para um público ávido de consumi-las. Muitos habitats foram destruídos para que o preço delas não baixassem e para que a espécie colhida ficasse cada vez mais rara. Muitas orquídeas morriam no transporte pois não se fazia a menor de idéia de como elas deveriam ser transportadas nem como deveriam ser cultivadas.

No mesmo século, alguns cultivadores passaram a se interessar em obter informações dos viajantes coletores de plantas sobre o habitat das orquídeas para, a partir daí, começarem a desenvolver uma técnica de cultivo mais adequada às espécies epífitas.

Joseph Paxton, jardineiro de 7o Duc de Devonshire, estimulado por John Lindley e baseado nestas informações melhorou as condições de ventilação, rega e umidade. Em 1830, ele foi o primeiro a utilizar estufas separadas para espécies de climas diferentes.

Talvez pelo fato das plantas ocuparem um lugar importante no estilo de vida inglês e ser a Inglaterra, por esta razão, um país cheio de jardins, foi lá que se deu o grande interesse por estas belíssimas e até então desconhecidas orquídeas. Durante este século, a Inglaterra permaneceu como sendo o principal país importador, seguida da Holanda e da Bélgica.

Cientistas, botânicos, jardineiros e coletores de plantas tiveram a partir desta época, seus nomes ligados a estas plantas:

John Lindley (Gênero: Lindleyella, Neolindleyella, Espécies: Barkeria lindleyana, Cattleyopsis lindleyana, Maxillaria lindleyana, Epindendrum Lindleyanum, Odontoglossum lindleyanum, Sobralia lindleyanum, Bulbophyllum lindleyanum);
Loddiges (Catlleya loddigesii);
Skninner (Cattleya skinneri);
Gould (Laelia gouldiana);
Sander (Vanda sanderiana, Paphiopedilum sanderiana);

E muitos outros.

Até o fim do século XIX, a germinação das sementes das orquídeas era um mistério. Em 1899, um biólogo francês, de nome Noël Bernard, examinando umas plântulas no microscópio, percebeu, com surpresa, a presença de filamentos envolvendo suas raízes: um fungo, identificado mais tarde, como Rhizoctonia. A partir de suas observações publicou-se diversos estudos descrevendo a natureza e o papel desempenhado pela associação orquídea-fungo na germinação das sementes. Seu trabalho, resultado de 10 anos de pesquisa, foi publicado em 1909 e explicava a associação entre as orquídeas e o fungo (micorriza). Foi um grande revolução na cultura das orquídeas e seu trabalho abriu caminhos para novos estudos.

O alemão Hans Burgell prosseguiu com os estudos e elaborou um outro método também utilizando a cultura de fungo para fazer germinar as sementes. Mas em 1922, a fórmula de Lewis Knudson (cientista americano) suplantou todas as outras. Utilizando uma gelatina estéril contendo sais minerais e açúcares, podia-se reproduzir em laboratório os mesmos efeitos do tal fungo, possibilitando a germinação . Outras soluções foram desenvolvidas, algumas bastantes eficazes mas a maior parte é baseada no método de Knudson.

Com a Primeira Guerra Mundial, devido à carência de combustível para manter as estufas, muitas coleções foram perdidas. Nas Américas, inclusive nos Estados Unidos, onde não ocorreu esta carência, o interesse pela orquídea foi despertado e diversos viveiros foram criados em todos os continentes sobretudo nas áreas tropicais. Houve grande progresso na hibridização de orquídeas que passaram a ser cultivadas em maior escala.

Em 1960, Professor George Morel, outro botânico francês, descobriu uma maneira de obter centenas de espécies idênticas a partir de uma só planta mãe, através da cultura meristêmica, sem haver necessidade de recorrer à germinação da semente. Trata-se de um método difícil que necessita de muitos equipamentos e só pode ser executado em laboratório. Obtêm-se mudas a partir da cultura do meristema ou mesmo de uma ponta da folha. Meristema é um tecido vegetal cujas células se multiplicam de forma rápida e intensa, é uma bolinha de aproximadamente 1mm de diâmetro, localizada no interior da gema.


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