Cattleya x joaquiniana Miranda
Bradea 8(22):128.1999

Bradea 8(22):128.1999.

Francisco E. Miranda
Biólogo,
Mestre em Botânica pelo Museu Nacional
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.

 
foto/photo: Francisco Miranda
Cattleya x joaquiniana Miranda - hyb. nat. nov.

 

 

Dendrícola pouco robusta no gênero. Raízes fasciculadas, com até 4 mm de diâmetro. Rizoma robusto com até 1,5 cm entre pseudobulbos. Pseudobulbos trianelados, cilíndrico-fusiformes, atenuados tenuemente para o ápice e base, apresentando seção circular, lisos mas longitudinalmente sulcados quando velhos, verde-médios, com até 7 cm de comprimento e 8 mm de largura, revestidos por bainhas fortemente apressas que secam e se desfazem ao término de seu desenvolvimento. Folhas lanceoladas, coriáceas, lisas, aplanadas, verde-médias, com até 8,5 cm de comprimento e 3,8 cm de largura. Espatas florais rudimentares, fortemente achatadas, oblanceoladas, tenuemente ventricosas, com até 6 mm de comprimento e 3 mm de largura. Inflorescências 1-2 floras, eretas e produzidas no topo dos pseudobulbos, com ráquis cilíndricas de até 3 cm de comprimento e 2,5 mm de diâmetro. Brácteas florais rudimentares, triangulares, com até 2 mm de comprimento. Pedícelos cilíndricos, verdes matizados em purpúreo, mais escuros na porção do ovário, com até 5,5 cm de comprimento e 4 mm de diâmetro na porção incluindo o ovário. Sépalas róseas irregularmente maculadas em purpúreo, elíptico-lanceoladas, ereto-patentes, planas com bordos tenuemente reflexos, formando triângulo equilátero, a dorsal com até 4,4 cm de comprimento e 1,4 mm de largura e as laterais com 4,2 cm de comprimento e 1,5 mm de largura. Pétalas com a mesma coloração mas apresentando venulações mais nítidas nas metades apicais, lanceoladas mais longamente atenuadas para as bases, planas com bordos irregular e ligeiramente reflexos, com até 4,1 cm de comprimento e 2 cm de largura. Labelo pronunciadamente trilobado com lobos laterais auriculares subelípticos tenuemente falcados muito mais curtos do que a coluna e a envolvendo frouxamente em posição natural e largo e quase plano lobo frontal subelíptico-triangular inciso no ápice originado após longo istmo que o separa dos lobos laterais e se alonga abaixo da coluna e com a qual é fortemente decurrente, em seu disco com quilhas longitudinais paralelas, baixas e carnosas que se originam em sua base e se estendem a até e um pouco adentro do lobo frontal, em posição natural espatulado e voltado para baixo expondo totalmente a coluna; a coloração é róseo-escura com venulações mais nítidas nos lobos laterais e róseo-lavanda com venulações mais escuras e mácula alvacenta na base no lobo frontal. Coluna róseo-escura mais intensamente colorida na linha apical, subcilíndrica estreita na base e alargando progressiva e fortemente, gibosa no ápice, tenuemente falcada, subtriangular em seção, com face inferior achatada depressa em cavidade delimitada com as alas laterais e 2 prolongamentos laterais do rostelo envolvendo quase que totalmente as laterais da antera, com até 2,6 cm de comprimento e 1,3 cm de largura máxima; antera com 4 cavidades, alvacenta, com 4 políneas amarelas subiguais; cavidade estigmática subtriangular, separada da antera por rostelo espessado em membrana saliente e flexível, com 7,5 mm de comprimento e 7,5 de largura.

 

Etimologia: Homenagem a Joaquim Barreto Carneiro, orquidófilo de Belo Horizonte, Minas Gerais, que localizou pela primeira vez este interessantíssimo híbrido natural.

Typus: BRASIL, Estado de Minas Gerais, Mun. Itaúna, cachoeira do Córrego do Soldado, 900 m/sm, em mata de galeria, coll. Miranda 1419, a partir de material cultivado pelo homenageado, fl. cult., 20.V. l998 (HOLOTYYPUS : HB).

 

Este híbrido natural deveria ser relativamente comum, considerando-se a quantidade de exemplares de Cattleya bicolor e C. walkeriana no habitat. As duas espécies chegam a ser extremamente abundantes em certas localidades. Entretanto, apesar de as duas espécies ocorrerem juntas com freqüência, até onde se sabe seu híbrido nunca foi encontrado anteriormente. O fato do ápice do período de floração destas duas espécies estar separado por 4-5 meses parece ser o responsável por isto. a estória da única planta até agora encontrada do híbrido é interessante. Ela foi coletada como plântula há uns 20 anos atrás juntamente com um lote de Cattleya bicolor, e com o passar dos anos chamou a atenção pelo crescimento bem mais lento do que as demais (considerando-se que deveria ser uma Cattleya bicolor). Ao florir, anos após a coleta, foi como que posta de lado devido às flores pouco numerosas e interessantes. Somente após muito anos de florações é que a planta, tendo sido mostrada em exposições de orquídeas em Belo Horizonte, passou a chamar a atenção como possível híbrido natural entre as duas únicas espécies de Cattleya ocorrentes na região. De fato, observando as flores pode-se notar que o labelo é mais típico de Cattleya walkeriana, enquanto que os demais segmentos, principalmente as sépalas, mostram grande influência de C. bicolor. A coloração é quase típica de Cattleya waleriana, exceto pelo fino maculado típico de C. bicolor.


Cattleya x joaquiniana Miranda hyb. nat. nov.